sexta-feira, 24 de junho de 2011

Homenagem ao Nascimento de Machado de Assis (Quarta Parte)

Capítulo LXXI  do Livro Memórias Póstumas de Brás Cubas:


O senão do livro


Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...
E caem! – Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Está é a grande vantagem da morte, que, se não deixa 
boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.

Machado de Assis

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