terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Felicidade Clandestina


Uma adorável mistura de contos dela, que sem dúvida é uma rosa rara, Clarice Lispector. Vale muito a pena ver!

 
(Produzido em 1998 por Beto Normal e Marcelo Gomes. Com Luisa Phebo, Nathalia Corinthia, Luci Alcântara.)


Restos de Carnaval



(Clarice Lispector, in "Felicidade Clandestina".)
 


CACOS



Ah, se me recolho os cacos
E faço deles um mosaico
Há muito por manter
Há muito por quebrar
Nem ouso antever a obra acabada
Feita da peça quebrada
Da outra mantida
Da inesperada composição
Por vezes surpreendente
Por outras, lamentavelmente
Incompleta nas peças achadas.
E, peça por peça, parte por parte
Remonto o mural
Sem conhecer a forma final
Me reservando surpresas
Abrindo caminhos, deixando afinal
Que não sejam presas na forma
As presas fáceis, as normas, as regras
E, de quebra, quebro a norma,
Refaço a regra e volto à obra
Peça por peça, parte por parte
Como se houvesse um caminho formal.

(Ruy Villani, in “Almas Costuradas”, pg. 136.)


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CRESÇA E DIVIRTA-SE


“... um dos sintomas do amadurecimento é justamente o resgate da nossa jovialidade, só que não a jovialidade do corpo, que isso só se consegue até um certo ponto, mas a jovialidade do espírito, tão mais prioritária. Você é adulto mesmo? Então pare de reclamar, pare de buscar o impossível, pare de exigir perfeição de si mesmo, pare de querer encontrar lógica pra tudo, pare de contabilizar prós e contras, pare de julgar os outros, pare de tentar manter sua vida sob rígido controle. Simplesmente, divirta-se.
Não que seja fácil. Enquanto um corpo sarado se obtém com exercício, musculação, dieta e discernimento quanto aos hábitos cotidianos, a leveza de espírito requer justamente o contrário: a libertação das correntes. A aventura do não domínio. Permitir-se o erro. Não se sacrificar em demasia, já que estamos todos caminhando rumo a um mesmo destino, que não é nada espetacular. É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador, afinal, quem quer cruzar a linha de chegada? Mil vezes curtir a travessia. [...]”
 
 
“[...] Dores, cada um tem as suas. Mas o que nos faz cultivá-las por décadas? Creio que nos apegamos com desespero a elas por não ter o que colocar no lugar, caso a dor se vá. E então fica ruminando, alimentando a própria “má sorte”, num processo de vitamização que chega ao nível do absurdo. Por que fazemos isso conosco?
Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência.”

(Martha Medeiros, in Feliz Por Nada, pg. 52 e 53.)