quarta-feira, 25 de maio de 2011

Traduzir-se

Boa tarde!
O texto de hoje foi extraído do livro Na vertigem do dia, de Ferreira Gullar. Que questiona a relação do homem com a arte, a tradução da poesia do ser individual para o social, reciprocamente.
Boa leitura!


Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
que é uma questão
   de vida ou morte
   será arte?



(Para saber mais sobre Ferreira Gullar e seus escritos acesse o site: http://literal.terra.com.br/ferreira_gullar/)

2 comentários:

  1. Adoro esse poema! Suas escolhas poéticas são certeiras, Tamara!

    Traduzir-se me lembra a saga de Fernando Pessoa e seus respectivos heterônimos; cada parte dele dividida em ficções. Isso é arte, sim!

    Beijos, Lohan.

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