terça-feira, 24 de maio de 2011

A República, na opinião do Joaquim Bentinho

 
Reunidos no terreiro da Fazenda Velha éramos dez ou doze caipiras e semi-caipiras...
Num acesso de sonho e de ingenuidade, julguei que seria possível o reerguimento do brio e da vergonha política do Brasil, alistando quanto mais eleitores ignorantes ou não e tratei de lançar a ideia entre os roceiros.
- Vocês precisam se alistar; precisamos meter o peito na política... Quem sabe se lavradores e operários unidos não endireitariam esta República de bacharéis...
- Quá... Num deanta sê votante...
- Só serve prá quem qué ganhá...
- Despois, a gente se apura: vae votá cum, otro zanga... Numa paga a pena ranjá nimigo...
- Mas a República...
- Quá... Interveio o Joaquim Bentinho. O meió é mecê largá mão disso... O´i, eu já fui monacrista... virei repurbicano; desvirei... revirei... E hoje nem num sei o que sô! Negócio de guverno, prá mim, é a merma coisa que criação de porco!
- Ora... O senhor é pessimista...
- Isso que mecê falou eu num sei o que é; mais isso eu num sô! Puis vacê veja: - vacê recóie um capado magro no chiquero; pincha um jacá de mio de minhã; otro jacá de mio no meio do dia; vai simbora; otro na boca da noite; de minhan cedo tá puido? O chão, tá limpo... O porco vae cumeno, vae cumeno, e vae ingordano, ingordano, inté num podê mais, de gordo: oreia caída, zóio impapuçado, buchechão estufado... Tá gordo; qué só durmi, roncá... Vancê pincha ua espiguinha de mio cateto ele esprementa e larga; inda sobra mio na espiga pras galinha pinicá... Já cumeu muito... Tá gordo, tá infarado; parô de cumê...
Esse é o Imperadô... Incheu, parô de cumê... Mais coa Repúrbica!... Mecê recoie um, ante desse um ingordá, sae, entra otro...
Num hai mio que chegue...
 
Cornélio Pires
(Esse texto delicioso de Cornélio Pires é apenas uma amostra do trabalho divertido a respeito da vida do caipira! Procure mais que você vai se deliciar! )

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