sábado, 1 de outubro de 2011

Sobre o amor


“Quando o amor lhes fizer um sinal, sigam-no,
Por árduos e íngremes que sejam seus caminhos.
E quando suas asas os abraçarem, não reajam,
Mesmo que a espada oculta entre as penas os possa ferir.
E quando o amor lhes falar, creiam nele,
Embora sua voz possa despedaçar-lhes os sonhos, como o vento do norte devasta o jardim.
Pois da mesma forma que o amor os coroa, também vai crucificá-los. Da mesma forma como favorece seu crescimento, também é responsável pela poda.
Da mesma forma que sobe aos galhos mais altos e acaricia os ramos mais tenros que balançam ao sol,
Também desce às raízes e solapa seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele os recolhe em si mesmo.
Debulha-os para deixá-los nus.
Peneira-os para livrá-los das cascas imprestáveis.
Mói-os até a brancura.
Amassa-os até que fiquem maleáveis;
E então os atira ao fogo sagrado, para que possam se tornar pão consagrado ao banquete santíssimo de Deus.
Todas essas coisas deverá fazer o amor com vocês, para que possam conhecer os segredos de seu próprio coração e, à luz desse conhecimento, tornarem-se hóstias do pão da Vida. [...]

 
O amor nada dá senão a si próprio, e nada toma senão de si mesmo.
O amor nada possui, nem se deixa possuir;
Pois o amor se basta a si mesmo.
[...]
E não pensem que podem dirigir os passos do amor, pois ele, se os julgar dignos, é que vai guiar seus passos.
O amor não tem outro desejo senão realizar-se a si mesmo.
Mas se vocês amarem e por isso tiverem desejos, então que seus desejos sejam estes:
Derreter-se e ser como um córrego murmurante que dedica à noite sua melodia.
Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ferir-se pela própria compreensão do amor;
E deixar-se sangrar de bom grado e com alegria.
Acordar à alvorada com um coração sublimado, e entoar aleluias por outro dia de amor;
Descansar ao meio-dia e meditar sobre o êxtase do amor;
Voltar a casa ao crepúsculo com gratidão;
E então adormecer com uma prece pelo bem-amado no íntimo, e um cântico de louvor nos lábios.”

(Kahlil Gibran, in “O Profeta”, pg. 14 e 15.)


Nenhum comentário:

Postar um comentário