sábado, 30 de julho de 2011

Alguém


Há qualquer coisa em mim que eu não sei o que seja:
vida que, estranha à minha, a minha vida agita;
um ser que não é o meu e meu ser lateja,
alma de um outro eu que em minha alma palpita.

Estrangeiro na terra, onde quer que eu esteja,
crucificado em mim – cruz de uma do bendita – ,
sinto, sem que o ouça e prove e aspire e toque e veja,
esse alguém que eu ignoro, esse outro que me habita.

Amo esse não-sei-quê que ao meu seu todo alia.
Se eu sou ele, que importa que ele venha, um dia,
minha vida tornar feliz ou desgraçada?

Não sei quem ele seja: e nele entanto creio,
pois dele é que há de vir, como sempre me veio,
sua essência que é tudo em meu todo que é nada.

Guilherme de Almeida


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